A origem de Recardães perde-se no tempo. E, se por um lado, esse facto se assume como um factor de valorização histórica e patrimonial, por outro, coloca-nos limitações de rigor por ausência de documentos que permitam balizar etapas fundamentais da sua evolução até ao século IX.
Todavia a existência de aglomerados populacionais com o nome de Crasto (metátese de Castro) de S. Jorge e Crasto de Além sugerem-nos a existência de defesas castrejas, fortificações militares que, segundo alguns autores, são atribuídas aos celtas de Portugal e da Galiza que as desenvolveram em épocas históricas muito remotas que se situam no primeiro período da segunda idade do ferro, ou seja, até ao séc. III antes da nossa era, havendo, no entanto, quem situe esta presença céltica no ano 500 antes de Cristo.
A configuração do local onde se diz ter existido esse tipo de fortificação parece apontar para essa ideia. De facto, os castros estavam quase sempre situados no alto dos montes, de acesso difícil, combinando-se com as condições naturais dos terrenos. Acresce o facto de os castros se situarem à beira de cursos de água o que facilitava a comunicação fluvial e o abastecimento das populações militares.
É também muito possível que nesse tempo o mar se estendesse até muito perto desta região. Todavia, o topónimo Recardães é nome de região. É formada por um conjunto de aglomerados mas nenhum deles se chama Recardães, termo que parece derivar do nome de um Sexto Rei Visigodo, convertido ao catolicismo em 589 da nossa era, que por aqui terá deambulado, chamado Recaredo que reinou entre nós entre 580 e 601 e do sufixo “anes” a designar posse. Assim surge Recaretanes que, através de um processo fonético, evoluiu para Recardães.
Quanto ao povoamento, ele apresenta-se, em princípio, ligado ao povoamento das vizinhanças do Vouga onde é suposto ter existido a cidade de Talábriga, agora estação arqueológica conhecida pelo Cabeço do Vouga, em Lamas do Vouga. A partir do século X, há uma série de registos que inscrevem Recardães numa história de doações e donatários. Sabemos, assim, que:
Em 981 um terço da vila de Recardães é doado por Fernando Sandines e sua mulher ao mosteiro de Lorvão, cumprido, aliás, a promessa que fizera a seu irmão Sandino Soares, de entregar a herdade que incluía a “villa” de Recardães, a igrejas e mosteiros. Um outro terço é dado ao mesmo mosteiro por D. Gonçalo Mendes.
Em 1018, parte de Recardães pertencia ao presbítero Zalama que nessa parte que lhe pertencia construiu a Igreja.
Entre (1037-1065) Recemundo Maurelis, opulento proprietário desta região, doa outra parte de Recardães ao mosteiro da Vacariça, que D. Raimundo, conde e príncipe de toda a Galiza (incluía o norte do Portugal de hoje), falecido em 1107, doará em 13/11/1094 à Sé de Coimbra, onde nesta altura residia acidentalmente.
Em 1150, D. Afonso Henriques doou-a à Ordem.
Em 1374 sabe-se que Recardães é já município com carta de jurisdição para ter juízes, jurados e meirinhos.
Em 1453 é doada com jurisdição cível e crime a Nuno Martins da Silveira como paga do seu serviço no Norte de África.
Em 1514, D. Manuel deu o senhorio de Recardães a Luís Silveira, por carta régia de 06/11/1514, dois meses depois de ter dado foral de concelho também a Vacariça (12/11/1514).
Em 1596 Recardães estava ainda na Casa de Aveiro. Neste século, o município de Recardães abrangia Borralha, Paradela, Feiteira, Troviscal, Saima, Felgarosa, Ancas e Vila Nova (da Palhaça), que em 1836 ainda pertencia ao concelho de Recardães.
Em 1689, Recardães tinha dois juízes ordinários, três vereadores, um procurador do concelho, três tabeliães, um escrivão da Câmara e um da almotaceria.
Em 12/04/1787 foi passada carta régia para Juiz de Fora ao Dr. Luís António Homem e Silva de Sousa, sendo nessa altura comarca e sede de município. A sede de audiência era na casa do próprio juiz ou na casa da câmara junto ao que se supõe ser a cadeia. É já no século XIX que Recardães deixa de ser município, por acção do liberalismo, criando-se o município de Águeda.